Em Armadilha da Identidade, Asad Haider inicia seu texto apresentando a citação do filósofo marxista francês Althusser: “todos nós nascemos em algum lugar”. A afirmação possui inúmeras interpretações, no entanto, ela nos leva, de modo geral, a uma composição de identidade, principalmente ligada ao pertencimento. Partindo desse pertencer, os corpos possuem a insígnia de “ser de algum lugar” por meio da sua imagem. Usos de vestimentas, linguajares ou hábitos gastronômicos nos liga à sensação de espaço e território, situando corpos em distintos marcadores sociais.
Imagem e identidade conversam, e, mais ainda, quando chegamos à discussão corporal. Os intermédios que formam o lugar, o modo como se relacionam com espaços mais amplos, ou as estratégias de delimitação de poder, fazem parte de uma hibridização entre identidade-imagem-corpo. É preciso atentar para outro fator que contribui para essa compreensão híbrida, que é a marginalidade.
Para Eduardo Coutinho, marginalidade é apenas uma construção social, um pensamento que atravessa estigmas opressores, debates sobre coerção, poder e hegemonia. A marginalidade atua de diversas formas na área da comunicação, seja em imagem, som, vídeo, linguagens, símbolos, teorias e afins. Nesse sentido, é importante olhar para o corpo marginal como construtor de identidades, e como suas imagens fundam lugares de pertencimento.
O espaço é mesmo público?
De Emicida a Juazeiro, reflexões espaciais sobre poder, coerção e marginalidades
Às vezes não nos questionamos o porquê de estarmos – ou não – em determinados espaços. Talvez isso ocorra pelo fato de: a) deixamos nossos olhos vendados, e por isso naturalizamos; b) há um processo histórico e social que permite a delimitação de determinados espaços; ou c) ambos acima fazem com que os espaços sejam coercitivos socialmente. Politicamente falando, a hegemonia sempre esteve ligada ao espaço, ou vice-versa, pois a coerção é um tipo de hegemonia e que acaba por influenciar o espaço, chegando ao ponto final deste “ciclo”, que somos nós, afetados por tal coerção.
Essa influência espacial vem se delineando e sendo questionada por meio, sobretudo, dos movimentos sociais, sejam de protestos, encontros, festivais etc. A marginalidade, enquanto margem social, estabelece provocações para o irrompimento destas ações coercitivas, que fazem dos espaços, especialmente os públicos, lugares detentores de poder. Nisso, é importante pensarmos nas seguintes indagações: para que serve o espaço público? E para quem ele serve? O espaço público é mesmo público? Em tempos de pandemia, parece-nos ainda mais imperativa esta questão, quando somos privados da livre possibilidade de ocupar espaços, de podermos encontrar uns aos outros no “público”.